A ideia desse post foi trazer a experiência real de quem resolveu mudar de vida e saiu do Brasil para viver na Itália, mais precisamente em Ragusa, na Sicília.
Antonio e Bruna são dois amigos muito queridos, nos conhecemos lá mesmo em Ragusa em 2016 e agora eles resolveram viver por lá. Por isso, ao invés de ser um post como muitos que vocês encontram falando do tema de maneira sempre igual, a Bruna nos presenteou com um texto de como tem sido a sua experiência vivendo na nossa cidade do coração.
Aproveitem esse relato cheio de carinho e saudades!
“Eu lembro quando foi a primeira vez que pensei que queria morar fora. Viajei para Nova York, achei aquela cidade incrível e decidi que queria dar um jeito de morar lá. Era 2015, e comecei a pesquisar. Descobri que quem tem cidadania italiana tem benefícios para empreender nos Estados Unidos e, de repente, meu marido lembrou que um primo já tinha tirado a cidadania, e que ele provavelmente teria direito também.
Começamos a mover todos os pauzinhos e, em junho de 2016, meu marido veio passar um período na Itália para tirar a sua cidadania. E foi aí que eu descobri que eu era muito mais Europa do que Estados Unidos. A comida boa, a vida leve, a ideia de trabalhar para viver e não viver para trabalhar, o pouco interesse pelo consumo… me apeteceram muito mais do que o American Way of Life.
Voltamos para o Brasil e começamos a planejar quando viríamos de vez para cá. Mas aí no comecinho de 2019 engravidei e aí acabei desistindo da ideia, querendo ficar perto da família e amigos.
Em março de 2020, todo mundo sabe o que aconteceu. Venho a pandemia, quando tínhamos uma bebê de 6 meses em casa e eu estava voltando de licença maternidade. Trabalhando de casa, com uma criança pequena, sem encontrar outras pessoas por meses. A ideia de que “eu podia estar fazendo o que estou fazendo agora em qualquer lugar do mundo” me pegou forte. Em 2021 a ideia amadureceu, conversei com a família e com meus chefes e lá pelo meio do ano decidimos comprar as passagens de ida para a Itália. Minha filha Elis estava com 2 anos e 4 meses quando embarcamos para a Europa, no dia 21/01/22.
Escolhemos Ragusa, na Sicília. A mesma região onde meu marido fez a cidadania em 2016. Aqui tínhamos apoio da Janaína, da Rosso Passaporto (com quem fizemos a cidadania e se tornou uma grande amiga nossa e da Veridiana) e sabíamos que encontraríamos alguns brasileiros que viriam fazer a cidadania com ela. Seria um porto seguro para nós, que estaríamos a partir de então sem nenhuma rede de apoio. O sul da Itália também é consideravelmente mais barato para se viver, o que era importante, já que estaríamos ganhando em real e gastando em Euro. Continuaríamos com nosso trabalhos de forma remota, trabalhando no horário do Brasil.
Alugamos a casa ainda no Brasil. Procuramos em sites como o casa.it e immobiliare.it. Selecionamos um imóvel, conversamos com a proprietária e pedimos para a Janaína visitar. Ela conferiu, viu que era um imóvel legal, nos mandou um vídeo da visita e fechamos a locação, com a ajuda e intermédio dela.
Chegamos aqui em janeiro, no pico do frio. Com duas cachorras (uma despachada e uma na cabine), uma criança de 2 anos e toda a nossa vida em 6 malas e 3 mochilas. A casa era mobiliada, então foram poucas coisas que tivemos que comprar. A sensação de “por que raios eu inventei de mudar de país?” durou mais ou menos uns 5 dias. E aí fomos nos adaptando.
Já na primeira semana, encontramos uma escola para a Elis (na idade dela a escola é o Asilo Nido). As escolas públicas já estavam com as inscrições para 2022 encerradas, pois o ano letivo começa em setembro. E também precisávamos que ela fosse para a escola de tarde, pois de manhã ainda não começamos a trabalhar (seguimos o horário de trabalho do Brasil). Aqui pagamos cerca de 280 euros /mês para que ela fique na escola das 14h às 20h, com uma fruta a tarde e o jantar. Esse valor, dependendo da renda da família, pode ser integralmente reembolsado pelo governo, é só dar entrar em um benefício que chama Bônus Asilo Nido.
Nosso maior medo, inclusive, era a adaptação dela na escola. Tínhamos muito medo de ela não se adaptar por não saber o idioma. Ela já falava tudo em português, então seria um choque na comunicação. Mas as professoras se mostraram bem tranquilas quanto a isso, e realmente ela nunca falou pra gente que não entendia o que as professoras e amigos falavam ou que ninguém entendia ela. Ensinamos apenas algumas coisas básicas como “quero água”, e em mais ou menos 15 dias ela já estava bem adaptada. Nos primeiros dias pudemos entrar com ela e depois ela foi ficando a cada dia mais horas, até ficar o período completo.
Ela não fala italiano com a gente, só solta umas palavras às vezes. Mas vemos que ela entende o que as professoras falam e imagino que dentro da escola ela fale italiano, pois entende que naquele ambiente ela precisa.
A maior diferença que sentimos na escola foi a alimentação. Nessa escola (e pelo que conversei com algumas pessoas, na maioria das escolas aqui) as crianças comem no jantar apenas a “pasta”. Mas a Elis não se adaptou à comida. É uma massa bem pequeninha, como um macarrão de sopa, e cada dia com um molho/caldo diferente. Ou de tomate, ou de lentilha, ou de caldo de frango. Ela não aceitava nunca comer e um dia pedi um pouco para comer em casa com ela. Mas realmente é muito diferente do que costumamos comer. A Elis come comida em pedaços desde a introdução alimentar. Morde e mastiga carne, come maçã mordendo, espiga de milho… E aqui eles comem na escola sempre essa massa que parece uma papinha. Conversei na escola e agora eu mando sempre o jantar dela.
Outra questão que nos preocupava é a saúde. Chegamos aqui com um seguro saúde para 60 dias, para cobrir qualquer urgência, e logo que chegamos solicitamos a residência na cidade e, com isso, pudermos fazer a Tessera Sanitaria da Elis. Escolhemos uma médica que é a médica referência, e se ela tiver qualquer problema nós vamos até o consultório para ter o atendimento dela e orientações. Graças a Deus ainda não precisamos usar, pois a Elis só teve pequenos resfriados desde que chegamos e tratamos em casa mesmo, com o suporte remoto da pediatra que atende ela no Brasil. Mas sabemos que o Hospital é apenas para urgência, e qualquer problema devemos primeiro ir na pediatra dela, em vez de correr para o hospital.
Antes de fazermos um mês aqui também compramos o nosso carro, para ter mais liberdade para poder se locomover aqui e também viajar. Compramos um Fiat Panda (que parece com um Fiat Uno) usado em ótimo estado. Pagamos 10 mil euros e ele tem um ano de garantia. Compramos em uma concessionária indicada para ter mais segurança de que o carro estava em ordem. Fizemos também um seguro que custou cerca de 800 euros/ano, para colisões e roubo.
Depois de devidamente adaptados, temos recheado nossos dias com o que nos fez vir para cá: conhecer novos lugares, aproveitar as manhãs (que não trabalhamos) com nossa filha, viajar sempre que aparece uma passagem barata para algum lugarzinho da Europa (fomos para Malta por 16 euros ida e volta!). Com o início da primavera começou a temporada das visitas e já recebemos alguns amigos e familiares e tem outros para chegar. Adoramos poder passear com eles pela Sicília e mostrar as maravilhas desse local.
Aqui na Sicília se come e se vive muito bem. Você só encontra no mercado as frutas e vegetais da época, e eles são sempre muito frescos, deliciosos e sem muita química. Percebemos isso porque se deixamos eles na fruteira eles estragam bem mais rápido do que no Brasil, e a cebola e batata, por exemplo, brotam rapidamente. Além disso tem doces maravilhosos, o gelato de comer rezando, e muitas outras maravilhas gastronômicas que adoramos apresentar para quem vem para cá.
Outra coisa que faz muita diferença pra gente é a segurança. O índice de criminalidade perto de zero de onde estamos nos fez criar hábitos que dificilmente seriam possíveis no Brasil. Andamos mexendo no celular na rua, deixamos a bolsa de praia no guarda-sol e vamos para o mar, andamos com o notebook na mão para ir trabalhar em um café. Nossa filha anda na praia enquanto observamos de longe. Isso não tem preço.
Não sabemos ainda o que faremos no futuro. Se voltamos para o Brasil no fim do ano, se ficamos por aqui ou se alçaremos novos voos. Mas estamos aproveitando ao máximo essa experiência de morar fora, conhecer novos amigos, viver outra cultura e experimentar a DOLCE VITA italiana, como planejamos e sonhamos por tanto tempo.
Se tiver qualquer dúvida ou quiser conversar sobre morar fora, pode nos chamar pelo instagram: @brumaturana / @tonibacci. Será um prazer!”
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